Ladies and Gent´s
Uma aventura louca
É verdade amigos, desta vez a Ana aproveitando as nossas férias em Portugal.
Teve a ideia louca de visitar os passadiços do Mondego, na bela Serra da Estrela.
Entrando por Videmonte e acabando na Barragem do Caldeirão.
12kms com uma beleza como só a Serra da Estrela pode proporcionar.
E o ponto de partida foi Celorico da Beira, capital do famoso queijo da Serra da Estrela.
E pela estrada EM 616 em direcção a Vale de Azares entrando no Parque Natural da Serra da Estrela.
Com as suas casas de pedra tipicas da Beira Alta e com uma estrada que serpentea a Serra culminando em Videmonte.
Realmente foi incrivel, mas valeu a pena.
Pois é um passeio que aconselhamos, embora não se esqueçam de iremcom roupa leve e com calçado confortavél.
E levem agua, muita agua e comer.
E guardem o numero de telemovel dos taxis, pois fazer o caminho de regresso requer muita coragem.
Por isso mais vale voltarem de taxi.
Já que a chegada a Barragem do Caldeirão vão ter que subir cerca de 1200 degraus.
É dificil captar a beleza da Serra da Estrela pois ela revela-se a cada curva e a cada momento do dia.
No entanto muita atenção, pois é de lamentar que o parque de estacionamento seja muito precário e até um pouco perigoso para quem se desloca de moto.
Quem gere os passadiços pensou em ter pontos de recarga para carros electricos, no entanto descurou por completo o piso, sendo em terra batida com pedras soltas.
Assim como não existe placas indicando o local de entrada, que no caso de Videmonte fica após uma curvas fechada.
Por isso tenham muito cuidado.
Mas a Serra tem o seu encanto e passear nestes passadiços é viajar no tempo.
Em que várias industrias aqui fizeram historia e estão documentados ao longo do percurso.
E um poeta em especial se enamorou pela beleza serrana.
Miguel Torga de seu nome captou desta forma a Serra da Estrela.
(…) “Beira, quer já de si dizer beira da serra. Mas não contente com essa marca etimológica que lhe submete os domínios, do seu trono de majestade a esfinge de pedra exige a atenção inteira.
Alta, imensa, enigmática, a sua presença física é logo uma obsessão. Mas junta-se à perturbante realidade uma certeza ainda mais viva: a de todas as verdades locais emanarem dela. Há rios na Beira? Descem da Estrela. Há queijo na Beira ? Faz-se na Estrela. Há roupa na Beira? Tece-se na Estrela. Há vento na Beira? Sopra-o a Estrela. Há energia eléctrica na Beira? Gera-se na Estrela. Tudo se cria nela, tudo mergulha as raízes no seu largo e materno seio. Ela comanda, bafeja, castiga e redime. Gelada e carrancuda, cresta o que nasce sem a sua bênção; quente e desanuviada, a vida à sua volta abrolha e floresce. O Marão separa dois mundos — o minhoto e o transmontano. O Caldeirão, no pólo oposto de Portugal, imita-o como pode. Mas a Estrela não divide: concentra.
(…)
A Estrela, essa, guarda secretamente os ímpetos, reflectindo-se ensimesmada e discreta no espelho das suas lagoas. Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e os tesouros. Então, numa generosidade milionária, mostra tudo. As suas Penhas Douradas, refulgentes já no nome, os seus Cântaros rebeldes a qualquer aplanação, os seus vales por onde deslizaram colossos de gelo, nos brancos tempos do quaternário. Revela, sobretudo, recantos quase secretos de mulher. Fontes duma pureza original, cascatas em que a água é um arco-íris desfeito, e conchas de granito onde se pode beber a imagem. O tempo demorou-se na solidão e no silêncio das suas lombas, e pôde construir à vontade. Abrir ruas, esculpir estátuas, rasgar gargantas, e até deixar desenhado o próprio perfil na curva de raio infinito de cada recôncavo.
Perder-se por ela a cabo num dia de neve ou de sol, quando as fragas são fofas ou há flores entre o cervum, é das coisas inolvidáveis que podem acontecer a alguém. Para lá da certeza dum refúgio amplo e seguro, onde não chega a poeira da pequenez nem o ar corrompido da podridão, o peregrino esbarra a cada momento com a figuração do homem que desejaria ser, simples, livre e feliz. (…)”
Miguel Torga
Por isso Portugal tem muito para oferecer.
Só precisam de ir a descoberta.
E a moto é o melhor para descobrir os recantos deste belo jardim à beira-mar plantado.
Boas curvas
Texto e fotos Paulo Baltazar
Fotos e planeamento Ana Tadeu

