Ladies and Gent´s
Eram 6.30 horas da manhã, naquele dia de Fevereiro em Bury St. Edmunds.
A moto, grandiosamente
designada pela Honda como Pan European, aguardava impávida e serena pela
partida.
Consistia numa moto turística,
confortável e com malas suficientes para os seus tripulantes.
Um jovem motociclista estava junto preparando a
partida e instalando o equipamento, conversando com a sua pendura agasalhada
até às orelhas e do qual se via apenas a pontinha vermelha do nariz.
Estava um frio de
enregelar, mas esta era uma viagem já planeada a algum tempo.
Mas o jovem motociclista
cumpria a sua parte corajosamente.
E saíam-lhe dos lábios
expressões amáveis.
Não que ele soubesse o que
se passava.
Houve rumores, claro, como
havia sempre em casos assim.
O temperamento da sua pendura
que salientava sempre a meteorologia e o frio.
E depois alguns anos atrás aparecera este
estranho sentimento que fazia desejar querer viajar.
Conhecer outros lugares
aos comandos de estranho veículo, com o motor entre as pernas e somente com
duas rodas, dispensando todo conforto de um carro.
A pendura com emoção, tremendo
enquanto falava. «Ainda bem que não chove! Temos de nos fazer a estrada que
ainda vamos para longe…»
O motociclista (que dá
pelo nome de Paulo) fornecera então uma resposta oportuna que incluía a frase:
«E não esqueces-te nada ?»»
E dizia a pendura — Não, tenho tudo!
-Vamos lá aquecer o motor — disse o motociclista
— Que, segundo creio, vai ser um fim-de-semana esplendido?
— Et oui. A Riveira Inglesa, uma cidade
que nunca visitei. Seria uma pena passar apenas por lá, comme ça.
E estalou os dedos de modo expressivo.
— Não há pressas, vão ser
dois dias a ver locais bonitos.
.— Pelas fotos do Booking.com parece ser uma maravilha — disse o motociclista.
Um vento frio silvou no parque de estacionamento
Ambos tiritaram. O motociclista
conseguiu deitar um olhar sub-reptício ao relógio. Cinco para as Sete
Pensando que ela notara
aquele olhar sub-reptício, apressou-se a entabular conversa novamente.
— Pouca gente viaja de
moto nesta época do ano — disse, olhando de relance para a rua
— Assim é. replicou a pendura
— Pelo menos parece não ter chuva!
— Pode acontecer isso?
. — Esperemos então que
não — disse a pendura
— As previsões meteorológicas e de céu
meio encoberto e amanhã dá sol!
Paulo subiu a bordo da
Honda com um ar de infinita determinação.
E aquele motor Honda fez-se ouvir, pronto a devorar quilómetros para mais uma aventura.
Seguindo para Sul pela A14 na direcção de Londres, cidade que ultimamente vivia um rebuliço enorme devido as novas intenções do Mayor (presidente da autarquia local ), querendo aumentar a zona da Ulez,, uma medida que promovida como ambiental, mas que mostrava apenas ser mais um imposto legalizado e que colocava essa cidade fora dos planos de muitos dos motociclistas.
Afinal andar de moto era ser livre, indo aonde se quer aos comandos de um veiculo diferente e não ser discriminado por qualquer medida politica que tenciona criar mais discriminação social.
Mas, passando ao redor eis que o transito aumenta, típico de qualquer grande cidade.
Com direcção a Devonshire no sudoeste da Inglaterra.
E com passagem por StoneHenge que víamos ao fundo da estrada A 303.
Mas o destino era mesmo a Riviera Inglesa, no fundo da A380 com a sua bela baia de aguas azuis turquesa e onde uma famosa escritora britânica os aguardava.
Uma cidade onde se mistura
o moderno com o antigo, num enredo de ruas e vielas que nos levam ao ponto de
encontro.
Mas eis que tivemos a
primeira surpresa, nossa anfitriã não estava.
Ter-se-ia perdido entre aquelas pequenas ruelas, caminhos e becos?
No entanto o local estava a encerrar e dessa forma fomos a procura de pistas que
desvendassem o mistério.
Disseram-nos que talvez tivesse ido a praia e dessa forma seguimos essa pista.
Rumando a um estranho veiculo de seu nome Funicular, que liga Babbacombe Downs
com Oddicombe Beach.
Mas que também se encontrava fechado e sem sinais de nossa anfitriã.
Mas com uma vista belíssima do mar por entre as arvores.
Mas o mistério continuava e lembrando o celebre inspector M. Hercule Poirot que tirava vantagem em observar e analisar cada pormenor, continuamos a procura.
No café junto ao estranho funicular tivemos mais uma pista, desta vez para outro local denominado estranhamente por uma personalidade politica.
Mas de onde se vislumbrava
a baia da Riviera Inglesa e de onde se avistava o promontório Thatcher Point.
Um local sossegado ouvindo-se o rebuliço do mar batendo nas rochas.
Com as aves pairando na sua azafama, preparando os ninhos para a primavera que se avizinha a passos largos, pois a natureza não pára.
-Que se terá passado? Perguntava a Ana
- Será que nos enganamos no local, pois é hora do chá! Exclamava o Paulo
Mas continuamos, em direcção a um lugar que poderia trazer novas pistas a este denso mistério.
Eis que vimos a beleza desta baía, com suas aguas que reflectindo o azul do céu criam uma simbiose perfeita.
E que onde nova pista nos levaria a outro local.
Edifício histórico e galeria de arte, fundado em 1196, é o mosteiro medieval mais bem preservado em Devon e na Cornualha.
De seu nome, Torre Abbey mas que infelizmente também estava fechado.
No entanto Ana encontrou novos modelos de bicicletas.
Concepção inglesa de algum artista mas que não nos levavam a nenhuma pista sobre a nossa anfitriã.
Talvez estivesse no celeiro espanhol mesmo ao lado, construído em 1300 e que ficou conhecido por ter sido a prisão 397 marinheiros espanhóis que foram prisioneiros de guerra.
Pertencentes ao galeão Nuestra Señora Del Rosario da famosa armada espanhola vencida
por Francis Drake em Julho de 1588.
Mas foi em vão, pois também estava fechado.
Onde muitas histórias se
contam entre sussurros e risos, num mistério cada vez mais adensado, pois nossa
anfitriã pessoa viajada e de renome internacional era bastante conhecida.
Livermead Cliff Hotel, local excelente com
vista para a baía e um serviço 5estrelas onde fomos muito bem recebidos.
Local perfeito para refazer ideias, saboreando um dry Martini para se ir a
descoberta desta cidade, em que a noite embalava em seus braços com o som do
mar sussurrando.
-Mas onde andará a nossa anfitriã? Questionava Ana
-Talvez pense que não veríamos devido ao frio!
- Mas iremos descobrir! Exclamava o Paulo
E assim deixando o hotel ruma-mos a um novo local, uma pista que tínhamos descoberto e que provavelmente nos levasse a ver a nossa anfitriã.
Bygones, antigo cinema convertido em museu com uma rua de lojas vitorianas, modelos e outros objectos antigos incluindo maquinas de diversão da antigas, algumas dos primórdios do cinema.
Incluindo uma trincheira da Primeira Guerra Mundial.
Um museu privado e
diferente reproduzindo a Era Vitoriana, período do reinado da rainha Vitória,
de junho de 1837 até sua morte em janeiro de 1901.
Coincide com o começo da
Belle Époque na Europa, como a marca do verdadeiro início de uma nova era
cultural.
Foi um longo período de
paz e relativa prosperidade para o povo britânico, também conhecido como Pax
Britannica, com os lucros adquiridos a partir da expansão e domínio do Império
Britânico no exterior, bem como o auge e consolidação da Revolução Industrial e
o surgimento de novas invenções.
Tudo isso permitiu que uma
grande e instruída classe média se desenvolvesse.
Dois grandes nomes do
pensamento moderno são dessa época: Charles Darwin e Sigmund Freud.
Um museu que trouxe pistas sobre onde estaria a nossa anfitriã.
E assim partiu-se novamente a descoberta para a encontrar.
Apesar do frio que se fazia sentir mas que a cada quilometro percorrido poder-se-ia desvendar tal mistério, nada iria demover este casal de viajantes.
Por entre estradas rurais
e adensada floresta eis que chegam ao Castelo Berry Pomeroy , uma mansão Tudor
dentro das muralhas de um castelo anterior, fica perto da vila de Berry Pomeroy
, no sul de Devon , Inglaterra.
Local bonito apesar de estar em ruinas, mas mantendo em parte a sua forma original.
Mas as horas avançavam e teríamos ainda uma longa viagem a percorrer.
Mas eis que finalmente o mistério é revelado e a razão pela qual nossa anfitriã não tinha aparecido..
Por entre estas paredes seculares, soubemos que nossa anfitriã a muito tempo teria partido em mais uma viagem no Expresso do Oriente.
E que junto ao Pavilion pode-se ver a estatua erguida em sua honra.
Agatha Christie, conhecida por seus 66 romances
policiais tinha de uma forma subtil e ao seu jeito, fazer-nos conhecer esta
região da Inglaterra.
Torquay
é uma cidade do que se denomina frequentemente a "Riviera inglesa".
Pelo seu clima mais suave em relação ao resto da Inglaterra, aquecido pelas correntes do oceano Atlântico.
E onde nasceu esta famosa escritora em 1890.
E assim fizeram-se a estrada, mistério desvendado e retornando a Bury St.Edmunds com mais uma aventura
realizada e com aquele sentimento que somente os motociclistas guiados pela
paixão conhecem.
E se tiverem oportunidade visitem a Riviera Inglesa, pois decerto vão gostar.
Boas curvas para todos
Texto e fotos: Paulo
Baltazar
Fotos: Ana
Tadeu
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